Rosa Maria Ferrão
Já reparou como a grande maioria de nós se deixa ofuscar
pelo brilho das joias?
Pois é, entretanto o seu valor não é agregado ao objeto,
isto é, uma joia, ou melhor, os materiais de que é feita não têm valor por si
sós. Tanto é assim, que, quando o homem europeu pisou o rico solo do Brasil
encontrou a melhor disposição dos nativos para entregar-lhes ouro e pedrarias,
sem que soubessem bem o porquê do interesse, pois aquilo nada lhes dizia.
Também assim é com nossas vidas: atribuímos determinado
valor a dezenas de coisas e depois passamos a agir como se elas tivessem
intrinsecamente esse valor.
A importância dada ao poder, por exemplo. Cometem-se os
maiores desatinos para alcançar uma posição de destaque social. Trapacear,
mentir, roubar, trair, tudo é válido para se alcançar essa jóia do orgulho e da
presunção.
Alcançado o objetivo, o indivíduo se sente um verdadeiro
sol. Os outros passam a ser vistos como simples planetas que orbitam ao seu
redor, dependentes de sua luz e calor, para sobreviverem. E esta situação os
satisfaz, durante algum tempo.
Ocorre, porém, que os outros também anseiam por seu próprio
brilho e, assim, esse astro-rei vive sob constante ameaça. Lutando, dia após
dia, para manter o que conseguiu, esgota-se, física, psicológica e moralmente.
Cada um é visto como um usurpador em potencial de sua
posição, dessa forma, desconfiança e falsidade instalam-se em suas relações,
isolando-o do afeto verdadeiro.
Há os que valorizam soberanamente o dinheiro, móvel único de
suas vidas, cujo objetivo é a riqueza. Para tanto, corrompem-se, prostituem-se,
atropelam a lei e a ética e, mesmo quando isso não ocorre, destroem a saúde em
detrimento da própria harmonia.
Para o usurário, no entanto, esse objetivo nunca é
alcançado. Quanto mais dinheiro consegue, mais precisa ter. Qualquer prejuízo,
por pequeno que seja, é um duro golpe a provocar desequilíbrio e ansiedade
crescentes. Um círculo vicioso se instala e o indivíduo fica preso em sua
própria armadilha.
Fortuna atrai parasitas como o mel às moscas, conforme é de
conhecimento geral. Os poucos amigos sinceros, tendo que conviver com esse tipo
de gente, acabam por afastar-se.
Assim, cercado por bajuladores interesseiros, caçadoras de
dinheiro e escroques de todo tipo, o milionário padece, mesmo sem se dar conta,
de profunda solidão.
Outra porta muito atraente é a que oferece glória, destaque.
O sucesso brilha em letreiros de néon, as revistas estampam, nas manchetes,
nomes em letras garrafais.
Embriagado, o idólatra da fama sente-se poderoso,
invencível, quase um deus. No entanto, como em essência não passa de uma
criatura humana, tem parco domínio sobre os caminhos que é levado a percorrer.
Glória e sucesso, embora retumbantes, são, cada vez mais,
passageiros. Os nomes de hoje são rapidamente substituídos, em prol da
novidade. E o que parecia eterno mostra-se mutável como a visão da lua em noite
chuvosa.
Assim, esquecido, o indivíduo entrega-se, muitas vezes, ao
desânimo, à apatia, aos diferentes desequilíbrios de ordem psicológica.
Nem tudo o que brilha é joia!
Poder, dinheiro e fama são estradas de brilho
intenso, atrativas, envolventes. É preciso cuidado e muitíssimo equilíbrio ao
percorrê-las, sem tolas ilusões e com a convicção de que, acima de todas elas,
paira eternamente o ser imortal que reside em nós.