12.7.09

The dark side


Sento-me na plataforma do mundo e espio. A chuva cai persistente.
Olho a casa vazia...o reboco caído das velhas paredes que se espalha pelo chão.
Não choro...não tenho vontade. Sem reação, apenas espio. E a chuva continua descendo meio à neblina pegajosa que tudo envolve.
Procuro, debaixo do céu escuro, alguma réstia de luz que conforte, me guie... A luminosidade pardacenta não permite ver além do meu próprio corpo. Este corpo estranho que não é meu. Que é perecível e gasto. Sou mais do que ele. Eu sei, porém...
Curvo a cabeça em direção ao umbigo. A escuridão aumenta...Se há algo em torno, não percebo, não consigo ver. Não agora...não neste instante. Se alguma luz brilha lá fora, o nevoeiro a embaça.
Ainda que me ofertem flores, estou triste demais para admirá-las, sentir seu perfume, perceber a cor que vibra em suas pétalas, cuja maciez ignoro.
E essa tristeza leva-me a um mundo estranho povoado de pessoas que não vejo. Que não me vêem. Que nada sabem sobre o fantasma que sou neste momento.
Os aviões rugem a caminho do nada, do destino fugidio, imponderável. E a chuva... chora.
Uma fugidia esperança de contato leva-me ao outro... Silêncio. A ausência na presença muda. A solidão acompanhada.
A música...
O mar infinito ...
O pio triste das gaivotas...
A rocha fria.
E aqui estou. Na sombra, na solidão das alturas, aguardando pelo momento da redenção.
E ela virá.
Ela sempre vem...

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